Depois de muita espera, o Banco Central Americano (FED) finalmente sinalizou que pode começar a reduzir os juros. Os dados sobre a economia dos EUA se mantiveram dentro do esperado, com destaque para o “payroll”, que é o relatório de emprego. O relatório, divulgado em 2 de agosto, mostrou a criação de 114 mil vagas, enquanto a expectativa era de 176 mil. Esse número mais baixo do que o esperado foi um dos fatores decisivos para a possível queda dos juros nos EUA, já que outro indicador importante, o PCE (núcleo de índice aos preços ao consumidor), já estava mostrando uma tendência de queda há algum tempo.
A magnitude da leitura do payroll foi extremamente benéfica para os ativos financeiros, principalmente os de países emergentes (caso do Brasil). Por aqui, o índice Ibovespa apresentou forte alta, assim como a curva de juros e spreads no mercado de crédito privado fecharam, sendo responsáveis por boas rentabilidades nos portfólios dos investidores.
Superada a ansiedade do início do ciclo de cortes, agora o horizonte e, principalmente, a sustentabilidade do movimento começam a entrar nas pautas de discussão sobre o tema. Em discurso no simpósio de Jackson Hole, o presidente do FED, Jerome Powell, foi enfático sobre o caminho que o Banco Central Americano irá trilhar.
Entretanto, “no meio” desse caminho há uma eleição presidencial. Embora os candidatos tenham pautas ideológicas distintas, o resultado para a economia possui efeitos parecidos. Ambos tendem a pressionar o fiscal, um com cortes de impostos gerando menor arrecadação e o outro aumentando gastos. Políticas protecionistas, que tendem a pressionar o lado da oferta em uma economia ainda bastante aquecida.
Um movimento sustentável é importante nesse momento. Oscilações na taxa de juros americano provocam grande fluxo de capitais, alterando preço dos ativos no mundo todo. Para que investidores tenham ganhos sustentáveis nos próximos anos, é importante que esse processo ocorra dentro de uma previsibilidade (mínima, que seja), pois se houver erro na condução e porventura o FED tenha que alterar o curso devido à volta de uma pressão nos preços, isso seria devastador para os ativos de risco.
Agosto, infelizmente, foi mais um mês em que o mercado financeiro ficou “refém” da política fiscal brasileira. Mesmo em um universo de muita desconfiança, há um esforço do governo, ao menos no discurso, de reforçar o seu compromisso com as contas públicas e perseguir o déficit zero ainda em 2024. Entretanto, os números que estão sendo divulgados não endossam e, por consequência, não validam as falas recentes. Isso acaba gerando um ambiente difuso, que de um lado é de confiança pelo cenário global (principalmente EUA), mas de desconfiança pelo desequilíbrio fiscal interno.
Conforme citado acima, estamos na iminência de cortes de juros nos EUA. Em nosso país, ao contrário, as projeções apontam para um possível aumento da nossa taxa de juros (Selic) no curto prazo, mantendo-a em um nível alto por mais tempo. Apesar disso, pode haver um movimento significativo de capital saindo dos EUA em busca de maiores retornos em mercados emergentes, como o Brasil. Isso não só pode impactar a bolsa de valores positivamente, mas também ajudar a reduzir a pressão inflacionária, que tem sido influenciada pela recente volatilidade no câmbio.
Mesmo que tenhamos uma Selic em patamar restritivo por mais tempo, ou até mesmo um aumento no curto prazo, o movimento de fluxo de recursos que pode sair da renda fixa americana em busca de maior rentabilidade em mercados emergentes é poderosamente significativo. Não somente para a renda variável, mas, também, para uma descompressão em relação à expectativa de inflação, hoje bastante pressionada pela recente volatilidade no câmbio.
Nesse ambiente de incertezas, tanto o mercado quanto o Banco Central estão adotando uma postura cautelosa, dependendo dos dados para tomar decisões. A volatilidade é tão alta que o Banco Central optou por remover a orientação futura da Ata do Copom, buscando mais liberdade para agir conforme as mudanças no cenário econômico.
Em relação ao fiscal, é necessário o governo sair do discurso e apresentar resultado na prática. Embora ainda estejamos longe de um colapso fiscal, não há mais espaço para gastos sem planejamento. Essa ordem precisa ser invertida, caso contrário, o “freio de mão” seguirá travando o desenvolvimento do país e os consequentes resultados no mercado financeiro.
Um ótimo setembro a todos!