Carta mensal - dezembro de 2024

Resumo da carta

  • Crescimento e expansão fiscal: O Brasil cresceu mais que o esperado, mas foi financiado por aumento de gastos públicos, gerando preocupação nos mercados. 
  • Turbulências internas e externas: Problemas políticos internos e fatores globais, como a valorização do dólar, impactaram a economia brasileira.
  • Perspectivas para 2025: Expectativa de que ajustes internos possam superar desafios externos, com foco em investimentos equilibrados e gestão fiscal responsável. 
                                        
                     

Crescimento e expansão fiscal

Encerramos o ano de 2024 com as expectativas extremamente desancoradas. E isso não é um privilégio nosso somente. A economia global também nos “presenteou” com algumas surpresas.

No ano que passou, vimos um Brasil que cresceu mais do que o esperado e com fortes indicadores macroeconômicos, atingindo níveis muito baixos de desemprego, refletindo, por consequência, na elevação da renda do trabalhador brasileiro. Observamos, também, aumento na FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), o que indica investimentos da indústria brasileira em equipamentos e expansão das suas instalações. Entretanto, a robustez da economia brasileira não foi refletida no mercado financeiro. Pelo contrário.

A principal razão do mau humor reside no fato de que grande parte do crescimento e desempenho da economia foi financiada pela esfera federal, via expansão fiscal (gastos do governo). Tema esse amplamente debatido na academia e que marca o viés heterodoxo do atual governo. Todavia, na visão dos agentes financeiros, aumentar PIB por meio de endividamento público não é sustentável no longo prazo. Entendemos que a mensagem ao governo brasileiro está correta, todavia, a intensidade com que foi emitida pode ter sido exagerada.


Turbulências internas e externas

Os gráficos abaixo mostram que tanto o DI Futuro quanto do juro real (B35) atingiram patamares do período que antecedeu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Fonte: ProfitChart PRO                                           Fonte:     Tesouro Nacional
Elaboração:
API CAPITAL

No caso do Tesouro IPCA+ 2035 cabe a ressalva de que o prazo restante para o vencimento do título é fator importante para a determinação da sua taxa, dado que quanto maior o prazo maior é o risco do credor. Mas, o que vimos é que o mesmo título com metade do prazo já percorrido atingiu o mesmo nível de remuneração de 2015 e 2016. Simplesmente surreal.

Por mais que o fiscal brasileiro preocupe, não estamos com o cenário que estávamos nesse período, econômica e politicamente falando. Entretanto, o risco precificado pelo mercado está no mesmo patamar. Ainda em comparação àquele período, temos alguns avanços institucionais que foram obtidos nos últimos anos que “freiam” algumas “extravagâncias” cometidas nos anos em questão, tais como a independência do Banco Central do Brasil e a inserção do conceito de teto de gastos que, no atual governo, foi repaginado e recebeu o nome de arcabouço fiscal.

Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, o Economista-Chefe do Citi para a América Latina, Ernesto Revilla, mencionou que México e Brasil (as duas principais economias do bloco) passam por dilemas fiscais, mas com reações muito distintas dos mercados. Na visão dele há uma superestimação do problema brasileiro e uma subestimação do problema mexicano.

Isso não significa que estamos em um céu de brigadeiro, longe disso. Turbulências ocorrem porque as condições de momento não são favoráveis. A questão é que o impacto da turbulência pela qual estamos passando está causando reações em escala diferente nos passageiros. Estamos longe de um consenso em relação ao assunto. Entretanto, algumas estão dadas sem haver grandes questionamentos.

Parte das oscilações que dezembro nos trouxe, foram problemas domésticos criados “dentro de casa”. Falha de comunicação, fator político sobrepondo o econômico e muitos ruídos no tocante à condução da política monetária por parte do Banco Central e no seu processo de sucessão no comando da instituição.

Parte das oscilações foram problemas exógenos, ou seja, que vieram de “fora”. Para esses, não há muito o que fazer, a não ser observar e realizar ajustes que são possíveis em janelas de oportunidades. O dólar americano exemplifica bem isso. Com a vitória de Donal Trump e os juros americanos tendo uma queda menor do que o esperado, muitos recursos fluíram para a moeda americana.

Abaixo, os gráficos mostram o movimento do DXY – Índice que mede a força do Dólar frente ao Euro, Yen (Japão), Libra Esterlina (Reino Unido), Dólar Canadense, Coroa sueca e Franco Suíço – e do nosso Real vs Dólar.

Fonte:  Banco Central do Brasil e Yahoo Finance
Elaboração: 
API CAPITAL

Observem que uma cesta de moedas, em tese mais forte que o real, foi afetada de maneira semelhante. A constatação sobre esse movimento é bem simples: a moeda americana mostrou, mais uma vez, que ainda reina soberana no ecossistema financeiro global.

Mesmo a Argentina, que vem fazendo reformas estruturais significativas e que conta com um grande apreço do mercado, executou, no dia 26/12/2024, a maior venda de reservas internacionais desde 2019 com intuito de segurar a valorização do dólar.

Há que se descontar a sazonalidade do período no que tange a fortes pressões no câmbio dos países emergentes, dado que esse período de final de ano é sempre uma época de remessa de lucros e dividendos de empresas multinacionais. Mesmo assim, o movimento cambial realizado pelos hermanos vai de encontro com o movimento realizado pelo nosso Banco Central, que também atuou no câmbio para reduzir volatilidade e conter a depreciação do real.

 

Perspectivas para 2025

Iniciamos 2025 na expectativa de que os fundamentos prevaleçam sobre as narrativas e que o Brasil faça o seu dever de casa. Mesmo que o cenário externo seja desafiador, é possível gerar valor com ajustes internos. Basta aprender com os erros cometidos em 2024 e não os repetir!

Asset equilibrado e aquisição de bons ativos que estão descontados (bolsa, FIIs, FInfras, Tesouro) serão, no médio prazo, responsáveis por auxiliar na performance dos portfólios. Prefixados de bons emissores e prazos curtos também são uma boa opção. Fundos de crédito privados com estratégias hedgeados em CDI e duration baixa também estão atrativos.

Um ótimo 2025 a todos!