Conforme esperado, presidente Donald Trump inicia sua agenda eleitoral e deixa o mundo apreensivo em relação às consequências delas. Tarifas para produtos estrangeiros, combate à imigração ilegal e fortalecimento da economia estão em destaque na sua volta ao poder. Abaixo, a revista The Economist resume bem como tem sido os primeiros movimentos de Trump no seu segundo mandato.
Todas são demandas legítimas e que constituem a plataforma escolhida pelos americanos para os próximos 4 anos. Entretanto, há algo que preocupa não somente os agentes econômicos da principal economia mundial, mas todas as nações economicamente relevantes: pressão inflacionária.
A agenda protecionista visa dar mais robustez a uma economia já aquecida, estimulando ainda mais o lado da demanda, levando o Banco Central Americano (FED) a rever o ritmo de cortes na taxa básica de juros 2025. Isso mexe com o tabuleiro de fluxos financeiros global, sendo os Estados unidos um destino preferido nesse contexto.
Entretanto, algo diferente chamou a atenção do mercado e que pode alterar essa dinâmica. Em recente discurso para a imprensa, o secretário do tesouro americano, Scott Bessent, expressou sua vontade de reduzir os juros da economia sem interferir na política monetária do FED, criando condições para que as taxas da Treasury de 10 anos caiam. E para que isso aconteça, os EUA terão que reduzir de maneira significativa os gastos do governo.
Isso mesmo, caro leitor. A principal economia do mundo, com uma carga tributária relativamente baixa e detentora da principal moeda do mundo está realizando ajuste nos gastos públicos! Todo esse esforço visa reduzir o risco fiscal embutido na curva de juros americana e, consequentemente, reduzir seus prêmios. Em bom português, melhorar a visão do mercado e dos investidores sobre os EUA como credor e “cobrar” uma taxa menor ao emprestar dinheiro para o governo se financiar. E por que isso altera e impacta tanto o cenário global?
Porque o T10Y (título do governo americano de 10 anos) é considerado o “aspirador de pó” da liquidez global. Abaixo, é possível visualizar o comportamento da taxa dele com o ETF do MSCI (índice que mede o desempenho dos mercados de emergentes):
Sendo assim, se as taxas de longo prazo dos Estados Unidos baixam, o investidor global irá procurar outros locais para investir. Esses recursos podem vir para o Brasil, sem que façamos grandes mudanças no nosso cenário. Além disso, com taxas menores, os empresários americanos mudam seus incentivos para alocação de capital, tornando-se viável a tomada de risco e expansão dos negócios. Dessa forma, o lado da oferta se expande e o equilíbrio com a demanda tende a se reestabelecer. O resultado é menor pressão nos preços e redução da inflação.
Essa abordagem do secretário do tesouro americano é louvável! Esperamos que ecoe pelo mundo e que outros governos entendam que não há a menor chance de um país atrair investimentos em economia real se as políticas monetária e fiscal não traçarem a rota para o mesmo horizonte. Missão difícil, mas bem direcionada. Resta torcermos pela sua execução plena.
Seguimos, ao longo de fevereiro, nossa saga fiscal. Mesmo com um discurso de comprometimento em relação aos gastos públicos por parte do governo federal e o déficit de 2024 fechando numa fotografia bem melhor que 2023, o mercado financeiro segue descrente em relação aos próximos dois anos de governo Lula. Surfamos um mês de janeiro positivo para os ativos de risco, dando mostras de como a “mola” dessa classe de ativos está comprimida.
Entretanto, o trigger que irá destravar a real potencialidade de geração de valor deles está cada vez mais orbitando ao redor do campo político. Em recente participação no CEO Conference do BTG, membros da API Capital participaram de uma série de painéis com Ministros do governo, Ministro do STF, Senador da República, grandes empresários e participantes do governo Trump. O sentimento é muito próximo no que tange a Brasil, muito potencial de crescimento, mas com o governo e, principalmente, o Ministro Fernando Haddad bastante enfraquecidos na tentativa de condução das políticas econômicas. Eventos como o pacote fiscal frustrado, a “crise do PIX” e a “taxação das blusinhas” fizeram a popularidade do governo Lula despencar no início desse ano, considerado por muitos como fundamental para as pretensões governistas para o pleito de 2026.
Esse ponto é crucial para entender o porquê do descompasso entre os dados recentes e “mau humor” do mercado. Com a popularidade em baixa e com as eleições de 2026 se aproximando, não é interesse do governo ter crescimento abaixo do que obteve em 2023 e 2024. Todavia, com política monetária contracionista, ou seja, juros altos e um mundo mais inflacionário, uma desaceleração da economia seria prudente para a acomodação dos preços e da nova dinâmica geopolítica da era “Trump 2.0”. Entretanto, a dúvida que fica é se o governo irá aceitar isso em plena véspera eleitoral, sem dinheiro para “gastar” e com seu principal Ministro de Estado desgastado perante a opinião pública. Uma das opções seria a insistência do investimento Estatal. Todavia, há uma regra a seguir.
Para que o arcabouço fiscal seja cumprido este ano, é necessário, segundo os cálculos do Ministério da Fazenda, que país cresça na ordem de 2,40%. Mercado projeta, segundo o último boletim Focus crescimento de 2,01% para 2025. Levando em consideração uma elevação de Selic no horizonte de curto prazo e um juro real ainda acima de 7,00% ao ano (inviabilizando investimentos em economia real que poderiam auxiliar no arrefecimento da inflação), as expectativas para que a conta feche no final do ano estão cada vez mais pessimistas. Por isso, ouvimos com frequência que as “expectativas estão desancoradas”, tornando investidores menos propensos a tomar riscos e na espera por definições no campo político.
Torcer para que as oscilações do mercado perante a “Trumpestade” que está por vir nos mares globais cheguem ao Brasil, quem sabe novamente, uma “marolinha”.
Dado o tamanho da incerteza nesse momento, entendemos que ativos atrelados ao CDI e ao IPCA são extremamente bem-vindos ao portfólio. Bons emissores bancários e Tesouro Direto são fundamentais para a travessia do ano. Para quem tem apetite a risco e espaço no Asset Allocation, o mês de fevereiro proporcionou uma janela de oportunidade para entrada em Renda Variável (Brasil e Exterior). Para os mais ousados e ainda no tocante às promessas eleitorais de Donald Trump, uma fração em Criptoativos.
Bom março a todos!