Carta mensal - julho de 2024

Resumo da carta

  • EUA: A desaceleração econômica sugere um “soft landing” com cortes de juros esperados para setembro, dependendo dos dados de inflação e mercado de trabalho. Kamala Harris assumiu a candidatura democrata, alterando o cenário político;
  • Brasil: Em julho, a Bolsa Brasileira subiu 3,02% com melhora do compromisso fiscal e a expectativa de queda de juros nos EUA. Juros longos continuam elevados, oferecendo oportunidades na renda fixa. A expectativa de inflação segue subindo, devido às despesas do governo e à apreciação do dólar, o que requer controle fiscal e monetário em sincronia;
  • Olhando em frente: A incerteza fiscal e a capacidade do governo de cumprir o arcabouço fiscal permanecem no radar. Nos EUA, o ciclo de redução de juros pode trazer fluxo de capital para o Brasil, aliviando a pressão sobre o real e a inflação.
                                          
                                        

EUA: Corte de juros se aproximando

Nos Estados Unidos, os indicadores recentes de inflação e atividade econômica sugerem uma desaceleração da economia, elevando a perspectiva de um “soft landing” (redução dos juros sem recessão). A expectativa é que o corte de juros nos EUA comece em setembro. Conforme indicado pelo FED (Banco Central Americano) em seu comunicado mais recente (31/07), caso os indicadores relacionados à inflação e mercado de trabalho (Payroll) se mantiverem dentro do esperado até a próxima decisão, estarão em uma posição confortável para o início do movimento.

A “calmaria” da política monetária americana, em julho, se contrapôs ao cenário político. Para surpresa de poucos, Kamala Harris assumiu a candidatura do partido democrata no lugar do então candidato à reeleição Joe Biden. Isso altera o cenário observado, dado que, antes da mudança, havia um favoritismo evidente do candidato Donald Trump. Ainda é cedo para entender os efeitos que cada candidato pode externalizar ao mercado, visto que a convenção democrata irá acontecer em agosto. A partir daí e, principalmente, a partir da definição do vice, as peças do tabuleiro eleitoral irão começar a se mexer de forma mais clara e os possíveis desdobramentos começarão a ficar mais evidentes.

Em relação aos ativos, julho iniciou no vermelho, mas logo voltou a subir com a expectativa de redução dos juros. Assim, o S&P 500 fechou em alta de 1,13%, atingindo um novo recorde histórico. O destaque foi a correção das grandes empresas de tecnologia e a valorização de ativos mais cíclicos, sensíveis ao ciclo de corte das taxas de juros. Reforçamos que uma eventual queda nos juros americanos pode trazer um fluxo positivo de capital para os países emergentes, sendo o Brasil um possível destino, o que pode resultar em apreciação dos ativos de domésticos.

Na geopolítica mundial, as tensões no oriente médio seguem escalando e preocupando o mercado. Mesmo que o momento atual “já esteja” no preço, a região é muito importante no que tange a commodities e logística (comércio global). Um escalonamento dos conflitos em níveis maiores, pode influenciar no preço do petróleo, por exemplo, e refletir numa pressão de custos na inflação global. Dentro de uma perspectiva de convergência inflacionária mundial pós pandemia e guerra da Ucrânia, com possível início de queda de juros nos EUA, uma escalada maior poderia ser um “banho de água fria” nas expectativas para o segundo semestre.

Brasil: O que um não quer, dois não fazem!

O mercado está preocupado com a inflação, cujas expectativas continuam subindo, principalmente pelo elevado nível de despesas do governo e a apreciação do dólar frente ao real (mais de 15% no ano). Uma inflação mais alta exige juros mais elevados, o que leva o mercado a acreditar que não haverá cortes de juros no curto ou médio prazo. Será necessário esperar um tempo para avaliar a condição da inflação antes de decidir sobre possíveis reduções nos juros.

Dentro do processo de estabilização da inflação brasileira, há uma combinação que precisa ter vetores na mesma direção, sentido e magnitude. Política fiscal (leia-se gestão das contas públicas) e Política Monetária (leia-se Taxa Selic) precisam conviver de forma simbiótica. Um controle da inflação via taxa de juros é ineficiente caso não haja equilíbrio fiscal. E os agentes do mercado sabem disso. Essa foi a principal razão pela qual os juros futuros e o juro real – principalmente o de curto prazo – oscilaram tanto em julho.

Após um primeiro semestre bastante negativo para ativos locais, julho foi um mês positivo, com a Bolsa Brasileira fechando em alta de +3,02%, graças à sinalização de compromisso fiscal do governo no início do mês, que reduziu em parte o ruído fiscal em relação a junho, e ao ambiente americano de queda de juros mais concreto, já citado anteriormente.

Mesmo após a tentativa do governo de reforçar seu compromisso com o arcabouço fiscal e o corte de R$ 15 bilhões no orçamento, os juros longos negociados em nosso mercado seguem elevados, com a taxa juros longa na casa de 12% ao ano. Nesse patamar de taxas, a tendência é que possamos continuar verificando oportunidades atraentes na renda fixa e no juro real.

Olhando em frente

Os ruídos em relação ao fiscal brasileiro e à capacidade do governo cumprir o que o arcabouço fiscal exige seguirão no radar do mercado. Declarações políticas devem começar a ser mensuradas quanto às suas consequências, tanto na curva de juros (que é quem define os juros de mercado para o cidadão) quanto nas expectativas em relação à ancoragem da inflação. Mas, tratando-se do Brasil, sempre teremos alguma pauta política influenciando o ambiente macroeconômico. Cabe a nós ter resiliência para nos adequarmos.

Nos EUA, caso os dados sigam em linha com o esperado, poderemos, enfim, iniciar o tão aguardado ciclo de redução dos juros americanos. Caso tenhamos um fluxo positivo de recursos estrangeiros para o Brasil, isso poderá aliviar a pressão sobre a nossa moeda e, consequentemente, sobre uma inflação que, hoje, beira o limite da banda superior (4,5% a.a.).

Seguimos com nossa cautela habitual e rigor técnico na alocação do capital de nossos clientes. Um ótimo agosto a todos!