Tarifaço do presidente Donald Trump desencadeia uma escalada na guerra comercial mundial. O pai do neoliberalismo decidiu abdicar da paternidade e partir para políticas econômicas altamente protecionistas, visando a reindustrialização dos Estados Unidos custe o que custar. Inicialmente, acreditava-se que pelo viés empreendedor e de mercado, Trump seria uma “pedra no sapato” do FED (Banco Central Americano) pela possibilidade de promover crescimento econômico a uma economia já muito aquecida. Tendo como base o Trump 1.0 e promessas de campanha, esperava-se estímulos via desregulamentações, menor participação estatal e mais participação da iniciativa privada no que tange à composição do PIB americano. Claro, a guerra tarifária era esperada e anunciada pelo próprio Trump ao longo da corrida eleitoral, inclusive. Entretanto, o que pegou todos de surpresa foi a magnitude das tarifas promovidas pelo presidente americano logo no início do seu segundo mandato, sem espaço para negociações e debates. A postura unilateral e belicosa, ao menos até o momento, demonstra uma convicção e uma frieza características de Donald Trump, mas que assustaram até os mais “calejados” gestores de Wall Street.
A corda foi esticada a um ponto que não permite às nações envolvidas retrocederem em suas posturas. Se curvar agora, pode gerar um impacto negativo incalculável e por tempo indeterminado. Sendo assim, o momento é de aceitar o golpe, contra golpear e calcular os danos. Por enquanto, não há vitoriosos. Todos saem, de alguma forma, derrotados dessa disputa.
Em relação ao fluxo de recursos, vimos, em um primeiro momento, uma depreciação do dólar em relação a moedas emergentes e ao euro. Entretanto, nos primeiros dias do mês de abril, logo após mais uma rodada do “tarifaço” de Trump, houve “corrida” para os tradicionais instrumentos financeiros de reserva de valor – ouro e dólar – e para o vanguardista, bitcoin. Bolsas e juros caindo. Incertezas elevadas. Um primeiro trimestre emocionante para o investidor brasileiro e global.
A alteração promovida por Trump é profunda e requer muito tempo para gerar resultados nos EUA. O que irá acontecer no restante do mundo ele não está nenhum pouco preocupado. Entretanto, hoje, ele ainda é o bastião da economia mundial. Como ele mesmo gosta de falar “He has the cards”. “But…”.
No xadrez geopolítico, um continente parece ressurgir das cinzas com a era Trump 2.0. Antes, preocupada com baixo crescimento, dependência americana e sempre muito disciplinada com seu equilíbrio fiscal pós 2008, a Europa volta a pensar em protagonismo após décadas muito omissa por acordos do pós-guerra. Gasto público, investimento em infraestrutura e defesa. Recentemente, uma startup alemã lançou seu primeiro voo orbital originado na Europa no mar da Noruega. Parece que o MAGA (Make America Greate Again) de Trump, sua principal plataforma eleitoral, pode se transformar em um MEGA (Make Europe Greate Again).
Por aqui, seguimos navegando de acordo com os mares internacionais. Nossos ativos financeiros são uma gota no oceano global. Sendo assim, dependemos muito do destino dos fluxos internacionais mais do que do bom senso do executivo, do legislativo e do judiciário. O bom desempenho da bolsa não representa o avanço de sólidos fundamentos macros, mas de fluxo pontual oriundo da “Trumpestade” e do novo modelo econômico que o presidente americano vem tentando implementar no início do seu segundo mandato.
Internamente, a popularidade do presidente Lula segue em queda. Sem muito espaço para utilizar a máquina pública para estimular o PIB, o governo vem tentando algumas medidas fiscais (talvez as últimas que conseguirá) como o pé de meia e o novo consignado com intuito de manter aquecida a economia em meio a taxas de juros restritivas do Banco Central. O que gera uma situação, no mínimo, estranha, em que o governo puxa o cobertor curto de um lado e o Banco Central o puxa em sentido contrário do outro, anulando forças. Infelizmente, não há correção de rumo sem um pouco de dor no processo. Quanto antes entendermos que é necessário um desaquecimento da economia para ajustes estruturais e que, a partir deles, conseguiremos crescer mais e de forma sustentável, melhor para todos. Entretanto, próximo ano teremos eleições e, ninguém, seja de direita ou de esquerda, quer começar um ano eleitoral explicando PIB baixo em rede nacional e, principalmente, nas redes sociais.
A guerra comercial é uma janela para reflexões e, quem sabe, uma oportunidade para repensarmos nosso parque fabril. Afetados seremos. Não há como evitar. Será que transformaremos do limão uma lomonada?
Incerteza segue sendo a palavra-chave, dessa forma entendemos que posições em CDI e inflação (preferencialmente bancários) vão bem nesse momento. Juros reais soberanos de curto prazo também (carrego logo compensa a volatilidade). Crédito Privado de bons emissores em CDI (prazo curto) ou fundos atrelados à inflação. Para os investidores que ainda possuem espaço no Asset, uma dose de prefixado faz sentido dado o comportamento da curva DI e o último leilão do Tesouro. Dólar e, para quem acredita, bitcoin para formação de reserva de valor podem compor o portfólio em janelas de oportunidades.
Bom abril a todos!