Donald Trump volta ao poder com a promessa de retomar seu ideal de fortalecimento da economia americana, desregulamentação dos mercados, redução de impostos, substituição de importações, taxação de produtos importados e deportação de imigrantes ilegais.
Esse combo prometido pelo presidente eleito é potencialmente preocupante para mercados emergentes (Brasil, por exemplo), uma vez que essa medida tende a fortalecer o dólar frente as moedas desses países. Além disso, no curto prazo, a mudança na dinâmica importação tende a reduzir a disponibilidade produtos aos consumidores americanos. Em uma economia já aquecida, com demanda em alta, uma redução no lado da oferta dificilmente não irá terminar em inflação mais alta.
Essa mudança de rota nos EUA se dá justamente no momento em que a autoridade monetária iniciou seu ciclo de cortes nos juros, após meses esperando o ‘alinhamento dos astros’ nos indicadores americanos. Não há dúvidas de que o Banco Central americano voltou a fazer contas e está revendo a trajetória de queda na sua taxa de juros. Infelizmente, esse sonho durou pouco.
Para o mundo, sobrou um dólar valorizado, inflação com expectativa de alta e juros em patamares elevados (ao que tudo indica). Para uma economia mundial que estava em fase final da recuperação do choque oriundo da pandemia da Covid-19, os próximos anos serão desafiadores para que seja retomado um cenário de crescimento, com inflação controlada e taxas de juros “civilizadas”. Isso significa que os EUA terão 4 anos somente de alegrias e boas notícias? Não.
Os desafios são imensos para todos, inclusive para o “pai do dólar”. Mesmo que o sentimento de euforia tenha tomado conta dos ativos americanos (e bitcoin), Donald Trump terá uma missão difícil pela frente. Déficit público exponencial, geopolítica mundial efervescente, cadeias produtivas e comerciais com dinâmicas alteradas são alguns dos pontos que irão requerer soluções não triviais do homem que irá segurar a “caneta mais poderosa do mundo”.
Após meses de expectativa em relação ao ajuste fiscal sinalizado pelo governo, o sentimento de frustração foi consensual no mercado brasileiro. A demora em anunciar as medidas, por si só, já pressionaram os preços dos ativos domésticos ao longo dos últimos três meses. O resultado dessa procrastinação somados a uma economia aquecida, a troca de comando no Banco Central (a primeira desde sua independência) e a falta de perspectiva de um equilíbrio fiscal factível e sustentável desencadearam uma forte pressão na curva de juros doméstica.
Para quem estava em uma descendente em relação ao custo de capital (taxas de juros) no seu mercado, voltamos algumas casas no jogo. E o pior, não sabemos ainda exatamente quantas teremos que voltar.
Nosso balizador do mercado, a taxa Selic, vem sendo revisada semanalmente pelo mercado. Não há uma sinalização clara do patamar que ela encerrará seu ciclo de alta, nem quando ela chegará ao seu final. Enquanto isso ocorre, transitamos numa incerteza que se reflete no preço dos ativos. Em resumo, tivemos bolsa caindo, juros reais disparando e CDI em ascensão. Não obstante, temos um fator adicional que irá representar uma fração significativa no próximo COPOM e na matriz de riscos elaborada pela nossa autoridade monetária: o resultado das eleições norte-americanas.
Conforme citamos no cenário de EUA, o dólar tende a se valorizar e se manter em patamares elevados dado a mudança estrutural que tivemos na terra do tio Sam. A expectativa, pelo menos por hora, é que essa valorização tende a se acentuar nos próximos 4 anos. Dado que o antídoto para esse movimento seriam reformas estruturais relevantes no Brasil (o que possui, no momento, uma baixa probabilidade de se materializar), a principal moeda global será, novamente, um fator importante a ser ponderado para a Selic terminal.
Mesmo com toda a dificuldade imposta pelo cenário macro brasileiro e a conjuntura internacional, seguimos com o olhar de que boas oportunidades, tanto aqui quanto lá fora, seguem disponíveis. Entretanto, entendemos o desconforto que tanta informação e, principalmente, oscilação gera para o investidor, mas seguimos acreditando que os preços seguem atrativos e com assimetrias extremamente positivas para quem aloca em bons ativos e permite a combinação tempo + juro composto trabalhar a seu favor.
No Brasil, juro real soberano segue muito sedutor, assim como alguns bancários e de crédito privado de bons emissores e prazos curtos. Ainda há uma leva boa de prefixados de 1 a 1,5 ano bem interessantes. Quem alocou em ativos atrelados ao CDI antes desse cenário se agravar, deve ter percebido que já não consegue alocar nas mesmas taxas (caíram significativamente). Para alocar nesse indexador é necessário “garimpar” boas oportunidades. Em relação à renda variável, quem tem espaço pode avaliar uma entrada nos nossos fundos de ações. Na sua maioria, estavam aguentando firmes todo mal humor dos últimos meses, contudo, sentiram o duro golpe do pacote fiscal e recuaram, abrindo uma janela interessante de entrada.
Esperamos que dezembro nos traga bons ventos!
Desejamos um Feliz Natal e um 2025 cheio de saúde e prosperidade!